quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Coronel das palavras, por Rosaria Costa



Era uma vez um guri que nasceu em Bagé numa casa com muitas mulheres lideradas por dona Melinha, a mãe com nome que espalha a doçura do mel. Gostava tanto de ler que percorria 16 km em Piratini onde morava para encontrar uma pequena estante no clube da cidade que para ele, que aos sete anos já fazia versos para a professora, era uma biblioteca.

Sua infância tinha quintal onde morava “ dona Hortênsia e o seu amor secreto o “Espantalho Pantaleão, dona Débora a abóbora e seu amado Emílio que mora numa espiga do milharal”, a variedade de cores das flores, das frutas e das borboletas enchiam os olhos do pequeno Luiz galopando seu cavalo de pau.

Cresceu, virou homem feito protetor de cinco irmãs “ com poncho atado no ombro e adaga de bom corte”, mas ...os “cavalos do tempo” o levaram a galope para estudar na capital. Lá se formou doutor advogado, mas “pro tempo não há esporas e não há rédeas para o vento” seu lado poético e curioso o levou pros lados da Filosofia, da Sociologia e da Política e ganhou diploma também.

Foi juiz e professor e mais uma vez os “cavalos do tempo” o levaram agora ao mundo da publicidade brasileira, onde ele inseriu sua poesia e seguiu mundo afora orgulhoso do seu “coração farroupilha.” Nesse galopar do tempo em 1973 começou a espalhar em livros um “Mundaréu” de poemas, “num ninho deixou seus versos e se foi pela estrada” dos ovosversos nasceram músicas consagradas em festivais e até hoje cantadas por artistas de nossa querência gaúcha e de outros estados brasileiros.

Mas o Luiz homem feito, bom Gaúcho Farroupilha “ faz viagens a sua infância, aos arroios, as pescarias, visita dona Hortênsia e dona Débora nos “latifúndios do seu quintal” e de lá pergunta a quem souber responder “cadê a bolinha de gude, o bolão olho de boi? Será que alguém fez “rapa luz não tem cruz” em todas elas? Mas se não tem bolinhas, tudo bem “ cadê a perna de pau?” Será que os atores do teatro de rua da Redenção levaram? Não faz mal vamos correr de arquinho?

Cuidado, cuidado, para com isso, guri! Grita Dona Benta lá do Sitio do Picapau Amarelo no fundo da memória. Imagens de hoje lhe mostram uma pandorga que já vem pronta só para montar, nem precisa fazer grude, a bola não é de meia, os boizinhos e cavalinhos são de borracha. De volta ao passado vê suas “irmãs brincando de bonecas ou de professora, jogando cinco marias ”. Juntas cantam cantigas de roda, correm em gritaria pulando sapata ou corda” e hoje do que brincam as crianças?

Vamos, vamos brincar ? Ninguém me ouve ou me vê, estão jogando videogame, teclando no celular ou hipnotizadas na frente da TV. Mas mesmo assim Luiz não desiste das crianças, ele gosta de estar com elas pois sabe que elas são ” movidas pelas hélices dos sonhos e andam por aí aconchegadas no colo da mãe ou sobre os ombros do pai, de onde conversam de igual para igual com os passarinhos” das árvores”.

Os poemas do Luiz foram parar em livros muito coloridos, a criança que pode pagar compra, e a que não pode tem a chance de receber de graça na Feira do Livro Infantil de Porto Alegre da qual ele é presidente.

Mas não é só a infância e a tradição gaúcha são tema de seus escritos, ele escreve também sobre grandes escritores do Rio Grande do Sul e do mundo, sobre teatro, sobre publicidade, culinária, sobre a diversidade do Planeta, a política eleitoral, dos bichos é claro, lendas brasileiras, carnaval, enfim ele escreve e fala de tudo um pouco e para todo tipo de público, juízes, universitários, crianças, todos nós aqui. Ele recebeu muitos prêmios, foi tema de escola de samba e da maior feira do livro do nosso estado Feira do Livro de Porto Alegre foi patrono em 2012.

Mas mesmo sabendo de tudo isto que lhes contei uma coisa ainda me intrigava. Onde ele é Coronel, qual batalhão ele comanda? Para tentar descobrir, perguntei para pessoas, procurei nos livros, na enciclopédia, fui até na Wikipédia, no yutube, em jornal e na rádio, mas só encontrei seus poemas, nada descobri sobre atividade militar, vi que até ele mesmo se pergunta “Afinal, que Coronel sou eu, e que comando tenho sobre minha alma desguarnecida cidadela”? Não consegui saber, ninguém soube me dizer, voltei aos livros, li e reli seus escritos e só então descobri, o Luiz é Coronel do batalhão das palavras, é sim.


Ele chama todas as palavras, apruma todas em um só pelotão, de prontidão esperando por seu comando. Depois disso ele comanda o pelotão com voz firme e poética, mistura emoções e “Remembranças” para chamar seus soldados, ora manda que fiquem em formação de poesia, ora de música, ora de prosa... enfim do jeito que sentir que vai ficar melhor, é assim, desde os sete anos até hoje, setenta anos depois, ele comanda este Batalhão.

E agora que descobri quem são os seus soldados chamo ao palco o comandante do batalhão das palavras, patrono da 16ª Feria do Livro de Venâncio Aires...LUIZ CORONEL.

O “CORONEL” DO BATALHÃO DAS PALAVRAS por Rosaria Garcia Costa, bibliotecária, contadora de histórias abertura da 16ª Feira do Livro de Venâncio Aires em 9 de setembro de 2015.

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